sexta-feira, 9 de maio de 2014

Suco grátis

A alma chora e sai um caldo.
Suco grosso e viscoso,
Gosto insosso.
A gente vira um fruto,
Se espreme tanto até sair o suco.
Depois a gente parece bagaço bruto.
Se sente destruído, espremido e encolhido,
Recolhido e escondido.

Os olhos é que servem o suco,
Sem copo, sem gelo, sem canudo.
Suco da alma tem sabor amargo,
Não adoça nem com açúcar mascavo.
Haja lenço para secar,
O que não pode ser seco.
Mais fácil é secar gelo!

Mas a gente é guerreiro,
Cai e levanta o ano inteiro.
A gente não fica amargurado,
Pelo suco escorrido e derramado.
Do bagaço ressurge a laranja,
Da garapa moída, novamente o verde da cana.

Que venham nossos inimigos,
Que venham novos desafios.
A gente vai se sentir oprimido,
Comprimido e espremido,
Deprimido e quase desistindo,
Mas nunca vencido.

Mesmo secando olhos encharcados,
A gente continua em passos largos.
Talvez tímidos ou decididos,
Mas de astral pra cima,
Pra suportar tantas esquinas.

Cada gota de suco da alma,
Fica guardada e armazenada,
Rotulada e engarrafada,
Numa prateleira no céu.

Está cuidada pelo Criador do mundo,
Pelo Dono de tudo.
                                          Maio 2014

Os olhos é que servem o suco,
Sem copo, sem gelo, sem canudo.

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