quinta-feira, 19 de abril de 2012

Olhar do semáforo

A calçada está toda molhada,
O limpador trabalha,
E o semáforo preocupado se fecha.

Ele aparece aqui,
Justo pra mim!
Suas pernas não andavam bem.
Ele tem aparência carente,
E pede dinheiro pra filha doente.
No bolso eu tinha notas e moedas,
Uma de vinte e uma de dez,
Uma de cinco e uma de dois.
E ali estávamos nós dois.
Eu podia lhe dar mais ou menos,
E lhe dei uma valendo cinco.
Me senti um banqueiro,
Analisando-o como um cliente.
Naquele entardecer,
Eu tinha o poder de lhe conceder,
Ou ignorar e negar.

Qual seria sua intenção?
Ah! Isso é do alheio,
E não me diz respeito.
Talvez comprar narcótico,
E fugir do dia neurótico.
Ou comprar cachaça,
Para suportar a vida na calçada.
Talvez pagar por prazer na esquina,
Com alguma donzela vivida,
E esquecer alguma paixão doída.
Ou seria apenas para uma aspirina,
E aliviar sua dor de rotina.
Talvez fosse para a filha.
Aí a receita seria fidedigna.

Ele continuou,
Tentando e testando a sorte,
Naquele verdadeiro labirinto da morte.
Mas outros carros se fecharam,
E o ignoram sem respeito,
Praticando o pré conceito.
Problema que não lhes dizem respeito!
Pobre sujeito.
O semáforo me olha vermelho,
De vergonha ou de reprovo.
Todos aguardamos ansiosos pelo verde,
Mas o vermelho nos castiga e permanece,
Todo impassível e inerte.

Sem sucesso com os outros,
Ele volta mancando.
Talvez querendo agradecer,
Me olha vendo o meu ser,
E consegue dizer:
Vou incluir você,
Em minhas oração que eu ‘fazê’.
O vermelho ficou em minha cara,
Nem sei se o verde chegou e fui embora.
                               Abril 2012

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