sexta-feira, 19 de abril de 2013

Quase tudo passa

Eu espero o café esquentar,
A fumaça sobre,
E os minutos vão passando.
O café ferve,
E fica com gosto de passado.
Eu espero o leite derramar,
A fumaça sobe,
E o branquelo tenta me enganar.
Os minutos vão passando,
Eu devaneando,
E o leite se esparrama pelo fogão.

A mamãe prepara,
E espera pelo seu filho,
E os meses se arrastam e passam.
Elas pensam: mãe é assim,
Já levo chutes dentro de mim.
Amor de mãe começa assim,
E segue amando até o fim.

A dona de casa cozinha,
E prepara o alimento sozinha.
As horas passam,
E ela espera por filhos e marido.
Eles chegam, sentam e comem,
Com uma fome ‘daquelas que nem te conto’,
Se fartam e se vão.
Cada um para seus interesses,
Mas a gordura das louças,
Ficam amontoadas e empilhadas.
Ela senta, suspira e os anos voam,
Mas um dia ela espera,
Ouvir uma palavra boa:
‘Obrigado mãe querida’,
‘Querida mulher, obrigado’.

O trabalhador pontual,
Na hora marcada está na calçada,
E espera o ônibus que demora.
Os dois chegarão atrasados,
E muitos ficarão bronqueados.
Na rua carros e pessoas passam,
Pombos e minutos voam,
Tudo acontece,
E o ônibus não aparece.
Ele tem que bater o ponto!
Ô vontade de bater naquele ponto!

O terapeuta senta ali,
O paciente senta aqui.
Um fala e o outro ouve,
Às vezes o silêncio fala mais alto,
E o lenço fica em pedaços.
Na parede o relógio faz TIC,
E o coração faz TUM.
Neste descompasso,
O tempo não passa,
O paciente se acaba,
E acaba-se o horário.

Tem muita gente sentada,
E esperam algo de mim.
O tempo passa,
Eu nada faço,
E não faço nada,
E a impaciência está nas caras.
Uns sorriem meio sem graça,
E outros perderam a graça pra sorrir.
                                                    Abril 2013


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